sábado, agosto 01, 2015

MAGIC IN THE MOONLIGHT (2014)

MAGIA AO LUAR
Um filme de WOODY ALLEN




Com Colin Firth, Emma Stone, Eileen Atkins, Simon McBurney, Marcia Gay Harden, Erica Leerhsen, etc.

US-UK / 97 min / COR / 
16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA: 25/7/2014
Estreia em Portugal: 4/9/2014


Stanley: «I can't forgive you, only God can forgive you»
Sophie: «But you said there is no God»
Stanley: «Precisely my point»


 Esta comédia de Woody Allen traz-me ao pensamento o poema-canção de Jacques Brel, "Dites, Si C'était Vrai", onde o genial compositor belga se interroga sobre a veracidade de alguns acontecimentos bíblicos (o nascimento de Cristo, os Reis Magos ou o ressuscitar de Lázaro, por exemplo), para concluir: «Si c'était vrai tout cela / Je dirais oui / Oh, sûrement je dirais oui / Parce que c'est tellement beau tout cela / Quando on croit que c'est vrai». Ou seja, uma metáfora sobre o verdadeiro significado das coisas, que só passam a existir para nós quando nelas acreditamos. Tal como Stanley Crawford (Colin Firth) é convencido dos poderes extra-sensoriais de Sophie (lindissima Emma Stone, cuja bela actuação é claramente influenciada por Diane Keaton, antiga musa de Allen), facto que de certo modo o alivia, por poder assim entregar-se aos prazeres mundanos, sem a companhia incómoda do racional e da lógica das coisas.


Uma das frases-feitas que nos habituámos a ouvir ao longo da vida é aquela que refere que "felizes são os ignorantes ou os pobres-de-espírito". Que é necessária uma dose de auto-engano para nos sentirmos bem, conosco ou com os outros. Ou que a ingenuidade infantil deverá ser preservada na idade adulta. "Magic In The Moonlight" fala-nos um pouco de tudo isso e, como o próprio título sugere, dá-nos a receita: o segredo para experimentarmos um pouco de felicidade está mesmo na magia. Não na magia do ilusionismo (do qual Stanley é um conhecedor exímio), mas na outra, na magia dos sentimentos, que não se consegue explicar, que é avessa a qualquer lógica ou método racional (e nesta, Stanley é um completo analfabeto): «I have irrational positive feelings for Sophie Baker», confessa ele à tia, bastante incomodado.


A verdadeira magia acontece justamente quando Stanley (um profissional que se disfarça de chinês - o grande Wei Ling Soo - para actuar um pouco em todo o mundo em espectáculos de ilusionismo) se vê encurralado num beco sem saída, passando a questionar todas as suas convicções devido às emoções inéditas que ameaçam preencher-lhe o vazio interior, até ali imune a qualquer investida mais importante. Stanley, adepto ferveroso das doutrinas de Nietzsche, é um inglês arrogante e narcisista, com uma enorme aversão aos falsos-espíritas. Persuadido por um velho amigo, Stanley parte em cruzada para a Côte d'Azur dos anos 20,  determinado a desmacarar uma jovem americana, conhecida por ter grandes poderes extra-sensoriais na comunidade local. Mas aquilo que de início parecia uma tarefa fácil, começa a revelar-se problemática, visto Sophie Baker parecer efectivamente ter o condão de adivinhar factos do passado e até estabelecer contacto com o mundo do Além. Mas nem tudo o que parece, é...



"Magic In The Moonlight" não pretende ir mais além nos seus propósitos: os de ser uma comédia romântica, muito agradável de se ver (apesar dos seus "altos e baixos"), e com um lote de óptimos intérpretes (o nome de Colin Firth é por si só uma boa garantia, mas quero destacar também a veterana Eileen Atkins, que aos 80 anos compõe a deliciosa personagem da tia Vanessa) e ainda uma banda-sonora repleta de standards da época, como aliás é característico dos filmes de Woody Allen. Só não gostei da cinematografia, que aposta nos tons berrantes e ultra-saturados. Percebe-se a ideia de realçar o romantismo dos anos 20, mas penso que foi uma opção errada, e que leva a que algumas sequências estejam bastante escuras. A escolha oposta teria, a meu ver, valorizado muito o filme.




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