segunda-feira, outubro 24, 2011

ANTEVISÃO: "THE ADVENTURES OF TINTIN"


Antecedido por uma agressiva operação de marketing, é já nesta semana (quinta-feira, dia 27 de Outubro), que se estreia em Portugal o filme “The Aventures of Tintin”, a adaptação feita por Spielberg e Peter Jackson de dois dos livros (“Le Secret de La Licorne” e “Le Tresor de Rackam Le Rouge”) do famoso repórter francês, criado em 1929 por Georges Prosper Remi (1907-1983), autor que ficou conhecido em todo o mundo pelo nome bem mais simples de Hergé. Não vou lá estar na estreia nem muito provavelmente em qualquer outra sessão. Existem filmes para os quais me descubro completamente desmotivado a comprar o respectivo bilhete de ingresso e este é um deles. Neste particular caso devido a três razões fundamentais: por ser realizado em 3D, por não ser falado em francês e, sobretudo, por eu próprio ser um grande fã de Tintin, o meu herói preferido de todo o mundo da banda desenhada.
Spielberg nunca tinha ouvido falar de Tintin quando realizou os "Salteadores da Arca Perdida" em 1981. Foram algumas críticas, escritas em França, que lhe despertaram a atenção por repetidamente mencionarem o nome de Tintin como uma das grandes influências do filme. Só então, e pouco a pouco, é que o realizador norte-americano se foi apercebendo da existência daquela personagem icónica da banda-desenhada, uma das mais queridas e conhecidas de várias culturas da Europa à Ásia, mas perfeitamente desconhecida em terras do Tio Sam. Apesar de, ao que dizem, se ter tornado um leitor assíduo das aventuras do popular repórter, Spielberg chegou demasiado tarde àquele universo muito particular criado por Hergé. Para se amar, para se sentir a personagem de Tintin e de todas as outras que gravitam em torno dele, há que ser-se criança primeiro e só depois crescer com elas.
O que provavelmente Spielberg se apercebeu, como profundo conhecedor dos meandros da produção cinematográfica, foi que tinha ali um filão capaz de lhe adicionar mais alguns milhões de dólares à conta bancária. Daí, a parceria feita com Peter Jackson, por causa dos efeitos digitais necessários à feitura do filme, foi um pequeno passo. Jackson tem sobre Spielberg a vantagem de, segundo ele, ter crescido a ler as aventuras de Tintin, mas a sua obsessão pelo CGI (computer generated imagery) usada (e abusada) em filmes como “King Kong” ou a trilogia do “Senhor dos Anéis” não augura nada de bom. Já tive ocasião de ver alguns dos trailers que proliferam por aí, e as expectativas não são nada estimulantes. Com toda a probabilidade teremos mais uma aventura digital, exemplarmente filmada (pese embora os bonecos me parecerem muito toscos e inexpressivos), mas que não se diferenciará de tantos outros produtos com que Hollywood tem inundado as plateias mundiais nos últimos anos.

Conforme escreve Eurico de Barros num artigo publicado ontem no Diário de Notícias, «há mais coisas a separar a banda desenhada e o cinema do que a aproximá-los, estética e tecnicamente. Imaginados para o papel, é muito difícil tirar de lá para a tela heróis como Astérix, Lucky Luke, Blueberry ou Tintin, quer se recorra à animação quer à imagem real. Os filmes ficam sempre aquém do original». Corroboro integralmente este ponto de vista, e penso que neste particular caso de Tintin as diferenças serão ainda mais abismais. A imagem de marca do traço de Hergé, conhecida como “linha clara e legível”, estará, com quase toda a certeza, ausente no filme, bem como o humor subtil ou o ritmo narrativo criados pelo escritor e desenhista belga. Em seu lugar haverá doses maciças de acção e efeitos espectaculares que se limitarão a repetir, ad nauseum, tudo aquilo que as actuais gerações estão já habituadas a esperar de cada novo filme.
Tanto Spielberg como Jackson afiançam não terem pretendido mais do que prestar uma homenagem ao universo e imaginário de Tintin através de uma abordagem inédita. Inclusivé, tiveram o beneplácito dos herdeiros de Hergé, que apoiaram o projecto desde o início: «deixaram-nos mesmo consultar o seu enorme arquivo e, em particular, toda a documentação (desenhos, mapas, etc.) que ele acumulou para construir as suas histórias – ironicamente, Hergé viajou muito pouco». Mas, no final, receio bem que as boas intenções não passem disso mesmo. Tal como as remakes de filmes clássicos que se vão anunciando cada vez com mais frequência, sempre com o substantivo “homenagem” na boca de todos os que ousam adulterar o que não precisa de ser refeito. Felizmente que, no caso presente, continuaremos a ter os livros sempre à mão (350 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, e em cerca de 80 idiomas diferentes) para, aí sim, nos podermos deliciar com todas as aventuras de Tintin.

sexta-feira, outubro 21, 2011

GONE WITH THE WIND (1939)

E TUDO O VENTO LEVOU
Um Filme de VICTOR FLEMING


Com Clark Gable, Vivien Leigh, Leslie Howard, Olivia de Havilland, Thomas Mitchell, Hattie McDaniel, Barbara O'Neil, Evelyn Keyes, Ann Rutherford, Butterfly McQueen, Everett Brown, Alicia Rhett, Carroll Nye, Harry Davenport, etc.

EUA / 238 min / COR / 4X3 (1.37:1)

Estreia nos EUA a 15/12/1939 (Atlanta)
Estreia em PORTUGAL a 20/9/1943
(Lisboa, cinema S.Luiz)



Scarlett O’Hara: « Rhett, if you go, where shall I go? What shall I do?»
Rhett Butler: «Frankly, my dear, I don’t give a damn»

Começo por citar o crítico francês Robert Chazal que, a propósito de “Gone With The Wind” afirmou: «É preciso um espectáculo como este para compreender o verdadeiro cinema, o que mexe, que “mostra”, que suscita sentimentos, primitivos talvez, mas violentos». Épico, monumental, glorioso, fascinante..., todos os mais elogiosos dos adjectivos são bem vindos aqui. Não falta quem lhe chame o maior filme de todos os tempos. Se o não é, trata-se, pelo menos, de um dos mais notáveis exemplos da arte de contar histórias, mantendo os espectadores presos ao écran durante quase 4 horas. "Gone With The Wind" é, definitivamente, um dos mais importantes alicerces daquilo que Hollywood significa (ou significou) para todo o planeta. Se então nos concentrarmos apenas no período áureo dos grandes estúdios, não existe outro filme que melhor o represente.

1939 é o ano de início da 2ª Guerra Mundial e nos Estados Unidos (que só entrariam no cenário bélico dois anos depois) a actividade cinematográfica está no seu auge. Nesse fim de década, todas as expectativas se viram para aquela que seria a maior produção jamais feita e o filme mais caro da história do cinema até essa data. Tendo por fundo uma intriga romanesca, “Gone With The Wind” mostra todo um capítulo da história dos Estados Unidos – a Guerra da Sessessão – com a mesma mestria com que David W. Griffith tinha filmado o seu “The Birth of a Nation”. O meio e a atmosfera são notavelmente reconstituídos e a interpretação de todos os actores é elevada a um grau superior de excelência, chegando a confundi-los com as respectivas personagens.


Pela primeira vez, em Hollywood, era utilizada a cor num grande filme (premiada com um Óscar) e o resultado foi extremamente feliz, a ponto de se poder considerar “Gone With The Wind” o ponto de viragem nesse particular aspecto. Para além das demais expectativas, a cor constituía um chamariz adicional para levar o público a correr às salas onde o filme era exibido. Mas a guerra rebentou precisamente quando a exploração internacional começava a dar os primeiros passos e, assim, a maioria dos écrans europeus tiveram de esperar por 1945 para oferecer o filme aos seus espectadores, a maior parte das vezes em versão reduzida, dada a longa duração do mesmo. Em Portugal, o filme foi estreado a 20 de Setembro de 1943, devido à neutralidade imposta por Salazar, mas os franceses, por exemplo, só o descobriram em Maio de 1950.


Em 1967 a M-G-M fez uma versão comemorativa em 70 mm e som estereofónico, e foi nesse formato que o vi pela primeira vez, a 25 de Março de 1969. Tinha 15 anos nessa altura e fui com os meus pais uma noite ao cinema His Majestyz, em Johannesburg, cidade onde nos encontravamos a passar férias. Muito contrariado, diga-se em abono na verdade, apenas para aceder à insistência da minha mãe, que queria mostrar ao filho o filme da vida dela. Apesar de muita coisa me ter escapado (obviamente os filmes não eram legendados em português na África do Sul e nessa altura o inglês tinha para mim o mesmo significado que hoje em dia tem o chinês) lembro-me de ter ficado fascinado com toda aquela sumptuosidade. Logo que tive oportunidade voltei a vê-lo (já devidamente legendado, em território nacional) e confirmei todo o impacto que a primeira visão tinha exercido sobre mim.


Tendo custado cerca de quatro milhões e quinhentos mil dólares (uma exorbitância para a época), “Gone With The Wind” não parou nunca de gerar grandes receitas ao longo dos anos. É fácil compreender o sucesso do filme na altura da sua estreia (em que pulverizou todos os recordes) em Atlanta, na Georgia, a 15 de Dezembro de 1939 (numa cerimónia que durou três dias e teve o mayor da cidade como anfitrião, o qual decretou feriado estatal no dia da exibição do filme) – uma geração e uma sociedade iam ser “levados pelo vento” e o filme, de título premonitório, arrastava as multidões, indo permanecer como o símbolo do termo de uma época e do começo de outra. Mais difícil é perceber a sua longevidade, o ter atravessado incólume 7 décadas (em 2007 o American Film Institute classificou-o no 4º lugar de uma lista dos melhores filmes de sempre, liderada por “Citizen Kane” - uma lista altamente discutível, diga-se de passagem), sempre a despertar paixões em sucessivas gerações de cinéfilos.


Mas talvez não seja assim tão difícil. “Gone With The Wind” é um filme nostálgico em si mesmo, bem enquadrado em duas partes distintas – o antes e o depois da guerra. Como diz uma das personagens, o Sul foi derrotado numa só noite e com ele desapareceu todo um modo de vida, em que a despreocupação, a segurança e a certeza no amanhã eram o pão nosso de cada dia. Um pouco como acontece na grande maioria das vidas do cidadão comum, em que existem sempre charneiras a separar o antes de e o depois de. E por norma as pessoas tendem a esquecer-se do pior do passado e cristalizam apenas os bons momentos na memória.


Mas “Gone With The Wind” foi também um filme impessoal, arquitectado muito mais por um conjunto de meios faustosos do que por um pensamento criador. O elo mais importante foi sem dúvida o produtor David O. Selznick (1902-1965) que, pressentindo o sucesso, comprou a peso de ouro (50,000 dólares) os direitos do best-seller de Margaret Mitchell (único livro publicado pela escritora, tendo vendido mais de 1,5 milhões de cópias aquando da estreia do filme), contratou um exército de argumentistas (entre os quais Scott Fitzgerald), e se encarregou pessoalmente da montagem e da promoção do filme. Além disso, partiu na busca desenfreada de uma Scarlett ideal, acabando por confiar o papel a uma actriz inglesa, a praticamente estreante Vivien Leigh, depois de muitas centenas de audições.



A escolha de Clark Gable para o papel masculino principal foi quase uma certeza desde o princípio, embora outros actores também tenham sido considerados, nomeadamente Errol Flynn, Gary Cooper e Ronald Colman. Gable estava sob contrato da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) e Selznick teve de negociar o empréstimo do actor com o seu sogro e responsavel pela MGM, Louis B. Mayer. Embora o motor da história seja o casal principal, os actores secundários ajudam, e muito, a colorir o retracto social que é “Gone With The Wind: Leslie Howard e Olivia de Havilland têm excelentes interpretações e as suas personagens facilmente ganham a simpatia do espectador. No entanto, é Hattie McDaniel que, com uma magnífica interpretação, cria uma personagem  memorável. A sua Mammy é a prova da multiplicidade social do filme e tornou-se num marco para a comunidade negra, já que a actriz foi a primeira a ganhar um Óscar.



As filmagens principais começaram em 26 de Janeiro de 1939 e terminaram 5 meses depois, em 27 de Junho. Embora “Gone With Wind” seja muitas vezes referido como uma produção Selznick, o filme é, talvez, o melhor exemplo de como o cinema é um processo colectivo, já que teve vários realizadores. George Cukor foi o primeiro a trabalhar no filme, mas foi substituído após três semanas de filmagens porque Clark Gable não estava satisfeito com o seu trabalho. Cukor foi substituido por Victor Fleming, que realizou 45% do filme e é creditado como realizador na ficha técnica (Cukor continuou a trabalhar no filme como “tutor” de Leigh e de Havilland). A meio das filmagens Fleming teve um esgotamento e foi substituido, durante duas semanas, por Sam Wood. Outros realizadores foram chamados a trabalhar no filme, incluindo diversos realizadores de 2ª unidade, que, entre outras, filmaram a grande cena do incêndio de Atlanta.


Por mais vezes que se veja o filme, subsiste a ânsia de chegar à derradeira cena, em que Scarlett O'Hara finalmente cai em si e decide aceitar incondicionalmente o amor de Rhett Butler. Este, já desinteressado, desgastado por tantas esperas, avanços e recuos, persiste na intenção de a abandonar. E quando ela lhe pergunta o que fará sem ele, responde que se está nas tintas: «Frankly, my dear, I don't give a damn». Esta simples frase (considerada pelo American Film Institute como a citação mais célebre da história do cinema) e a respectiva cena, é no filme apenas a cereja no topo do bolo. Um bolo enorme, bem recheado, que cada vez que o provamos nos deixa uma quantidade enorme de sabores na boca. Não resisto aqui a relembrar alguns desses sabores:

A cena na sala da residência dos Wilkes, onde acidentalmente Scarlett revela a Rhett Butler o segredo da sua paixão por Ashley – o baile de beneficiência em que a recém-enviuvada Scarlett é licitada por Rhett para uma dança (nunca um vestido negro brilhou tanto num salão) – aquela famosa sequência de Atlanta, em que um hábil movimento de grua mostra a imensidão da rua principal apinhada de feridos, com a bandeira sulista em primeiro plano – o incêndio, a saída de Atlanta e o primeiro beijo roubado por Rhett a Scarlett (não fosse o diabo tecê-las e vir a morrer em combate sem ter concretizado aquele desejo) – a chegada a casa, a uma Tara pilhada, e a descoberta da morte da mãe (atente-se na mestria com que é mostrada a entrada de Scarlett no quarto: o leito da morta em primeiro plano e o surgimento progressivo da silhueta de Scarlett, acompanhado por lúgrubes sombras na parede) – o final do I acto, onde já só existem as raízes do campo para comer e em que Scarlett faz a jura de nunca mais passar fome na vida, nem que para isso tenha de roubar ou matar.

No II acto os momentos inesquecíveis não deixam de marcar presença também: as tentativas de sedução de Scarlett em relação a Rhett, agora na prisão (que despreza a sua oferta sexual) e a Frank Kennedy (Carroll Nye), o noivo da irmã (com o qual se virá a casar para assim iniciar o rápido enriquecimento) – a noite de vigília passada na leitura de “David Copperfield” (única sequência em que os quatro protagonistas principais do filme aparecem juntos) – aquela elipse deliciosa em que, imediatamente após Rhett levar Scarlett ao colo pelas escadas acima em direção ao quarto, a vemos espreguiçar-se languidamente na manhã seguinte, com o rosto banhado por pura felicidade – o corolário da cena final do abandono, onde Scarlett remete para o dia seguinte resolver aquele problema. Enfim, limitei-me a enumerar apenas alguns dos mais célebres momentos deste filme intemporal; mas muitos outros existem que fazem com que as 4 horas de duração (retiradas de um total de 100 horas filmadas) passem num abrir e fechar de olhos.

O filme teve 9 Oscars da Academia: Filme, Realização, Actriz Principal (Vivien Leigh), Actores Secundários (Thomas Mitchell e Hattie McDaniel), Argumento-Adaptado, Fotografia (Cor), Direção Artística e Montagem; e ainda mais 3 nomeações: Actor Principal (Clark Gable), Actriz Secundária (Olivia De Havilland) e Partitura Musical (Max Steiner). Em 1989, o filme foi seleccionado pela Biblioteca do Congresso Norte-Americano como património nacional a preservar e, em 2004, foi completamente restaurado a partir dos três negativos em Technicolor existentes. Utilizando tecnologia digital, a nova cópia é de uma qualidade única, aconselhando-se o seu visionamento no formato Blu-ray.


CURIOSIDADES:

- No argumento final foi abolida a referência ao Ku Klux Klan, organização contactada - no seguimento da agressão a Scarlett pela parte de dois negros – para levar a cabo uma acção de retaliação.

- Os bilhetes para a estreia do filme em Atlanta custaram 40 vezes mais do que o preço habitual.

- Uma das poucas cenas dirigidas por George Cukor que sobreviveram na montagem final é a do nascimento do filho de Melanie em Atlanta. Outra é a da repreensão dada a Scarlett por parte de Mammy, em virtude dela se recusar a comer.

- 1400 actrizes (entre as quais celebridades como Jean Arthur, Lucille Ball, Bette Davis, Claudette Colbert, Joan Crawford, Katharine Hepburn, Carole Lombard, Norma Shearer ou Barbara Stanwyck) foram entrevistadas para o papel de Scarlett O’Hara. Mas apenas duas, Vivien Leigh e Paulette Godard fizeram testes a cores.

- Para a filmagem da sequência do incêndio de Atlanta (a primeira a ser filmada) foram queimados cenários de alguns filmes antigos, como “The Garden of Allah” e “King Kong”.

- Na sequência em é mostrada a rua principal de Atlanta apinhada de soldados feridos ou agonizantes, foram usados cerca de 800 figurantes, misturados com equivalente número de bonecos.



- Na cena em que Rhett Butler dá a beber uma bebida a Mammy para comemorar o nascimento da filha, o actor substituiu o usual chá por whisky verdadeiro sem lhe dizer nada.

- Vivien Leigh trabalhou 125 dias, tendo ganho o cachet de 25,000 dólares. Clark Gable recebeu 120,000 por um período de 71 dias.

- Na cena em que Scarlett cai pelas escadas abaixo, a frase dita por Rhett, imediatamente antes, consta no livro como «talvez faças um aborto». Selznick fez questão em que a mesma fosse alterada para «talvez tenhas um acidente».

- Se o valor das receitas que o filme teve ao longo dos anos fosse ajustado à inflação (única maneira de se fazerem essas contas de um modo justo e equitativo), “Gone With The Wind” teria um total de lucros de cerca de 1 bilião e 610 milhões de dólares, o que o coloca no 1º lugar na lista dos filmes que mais renderam em toda a história do cinema. “Star Wars” ocupa o 2º lugar, com 1 bilião e 420 milhões e “The Sound of Music” o 3º om 1 bilião e 135 milhões.

  
RHETT BUTLER  por  CLARK GABLE

A minha reacção ao saber que interpretaria Rhett Butler foi franca e simples: "o condenado comeu uma refeição abundante". Não quero que me entendam mal. Enquanto actor, adorei. Era um papel espantoso. Material do género "uma vez na vida". Mas, enquanto Clark Gable, um homem que gosta de escolher os seus papéis, e que se viu arrastado por uma série de circunstâncias sobre as quais não tinha qualquer controlo, estava morto de medo. Não pretendo desculpar-me. Devo reconhecer que as filmagens foram uma das experiências mais perfeitamente agradáveis e satisfatórias da minha vida. Durante as filmagens senti-me no meu elemento. Quando dei por mim rodeado de cenários, à frente de uma câmara, em roupa de época, a interpretar cenas dramaticamente realistas, foi então que pela primeira vez compreendi a personagem de Rhett. Os longos meses durante os quais o tinha estudado, tentando conhecê-lo tão bem quanto a mim próprio, fizeram-me acreditar que eu era Rhett. Finalmente tinha algo prático a fazer, algo a que me aplicar como actor. Eram as coisas que eu não podia fazer que me preocupavam mais.


Para tentar explicar-me, deixem-me regressar ao início. Eu nunca pedi para interpretar Rhett. Fui dos últimos a ler o livro. Sei, porque por curiosidade lhe perguntei, que não fui a inspiração de Margaret Mitchell para criar Rhett. Quando ela estava a escrever o seu livro, Hollywood ainda não tinha ouvido falar de mim, e tenho a certeza que a senhora Mitchell nunca teve interesse no trabalhador dos campos petrolíferos do Oklahoma desconhecido que eu era nessa altura. As primeiras vezes que ouvi o nome Rhett Butler, foi com crescente irritação. Ninguém gosta de parecer parvo. Era irritante ter conhecidos a perguntar entusiasmados, «Com certeza, leu “E Tudo o Vento Levou”?», e reagirem com surpresa e desapontamento quando eu respondia que não. Chegou uma altura em todos os que não tinham lido o livro eram considerados analfabetos, se não mesmo uma paródia social. Em Hollywood qualquer coisa fora do normal é logo "colossal". Habituamo-nos. Todas as semanas aparece um novo "livro mais importante de sempre", que se vai transformar no “maior filme de sempre”. E na semana seguinte, já ninguém se lembra dele. Foi isso que me impressionou com "E Tudo o Vento Levou" ... o vento continuava a soprar.

Como disse anteriormente, todos os minutos, dos cinco meses que passei na produção, foram aprazíveis. Foram os vinte e quatro meses de conversas que lhes antecederam que foram exasperantes. Foi só quando Spencer Tracy começou a saudar-me com, "Hi, Rhett!", que resolvi ler o livro. Antes disso, tinha resistido mesmo quando os meus melhores amigos me diziam, «Parece feito à tua medida.» Já tinha ouvido aquela conversa antes. Para que seja dita a verdade, a meio do livro me juntara ao resto da América, tornando·me um fã da obra da senhora Mitchell. Era um bom livro, bom demais. E Rhett era tudo o que uma personagem deveria ser e tão raramente é: claro, conciso e muito real. Ele respirava nas páginas do Iivro. Era um estudo de personagem impecável. Resistia a qualquer análise sem que se lhe conseguisse encontrar uma fraqueza. O que representa­va um problema.

Apercebi-me de que o actor que interpretaria Rhett teria uma grande dificuldade neste sentido. A senhora Mitchell tinha esculpido a ideia de Rhett nas mentes de milhões de americanos, cada um dos quais conhecia exactamente o aspecto e o temperamento de Rhett. Seria impossível satisfazê-los a todos. Qualquer actor deveria sentir·se afortunado se conseguisse satisfazer pelo menos a maioria. Não estou a dizer que não queria interpretar Rhett. Eu queria. Nenhum actor poderia resistir a um desafio daquele calibre. Mas o crescente aumento de popularidade da personagcm fez-me crer no célebre ditado, "A discrição é a melhor parte da coragem." Ler o livro, permitiu que eu me apercebesse do que estaria exactamente à minha espera se viesse a interpretar a personagem. Decidi permanecer calado.


De qualquer maneira, estava a ficar claro que a situação não dependeria de mim. O interesse do público em ver-me na pele de Rhett surpreendeu-me. Muito ames de qualquer intérprete ser escolhido, recebi pedidos para entre­vistas. Quando me recusei a comentar, os jornalistas fizeram-no por mim. A minha correspondência duplicou e depois triplicou. Vi-me em ilustrações no papel de Rhett, com patilhas. Não gosto de patilhas, elas fazem comichão. Parece que eu era o único a não dar por certo que seria eu a interpretar o papel. Foi uma sensação curiosa. Hoje percebo como se sente uma mosca presa numa teia de aranha. Isso não quer dizer que não me sentia lisonjeado pelo que o público me estava a fazer. Simplesmeme Rhett era algo demasiado grande. Não queria ter nada a ver com ele.


Para ter a certeza que não me tinha deixado enganar pela minha primeira impressão, voltei a ler o livro. Fiquei ainda mais convencido de que Rhett era demais para qualquer actor de mente sã. Mas não conseguia escapar-lhe. Considerei todas as fugas possíveis. A certa altura, até pensei escrever à senhora Mitchell. Achei que seria fantástico se me limitasse a dar a con­hecer uma declaração que dissesse: «Acredito que Clark Gable seria a pior opção possível para a personagem de Rhett Butler». Talvez quando à senhora Mitchell vir o meu Rhett, ou melhor o que eu fiz ao seu Rhett, con­cordará comigo. Talvez estejam interessados em saber que a minha escolha para a personagem teria sido Ronald Colman. Continuo a pensar que ele teria sido um óptimo Rhett.


As minhas pesquisas revelaram que a senhora Mitchell (o que foi extremamente inteligente da parte dela) não queria saber o que Hollywood pretendia fazer com o seu livro. Tudo o que ela queria era paz e tranquilidade. Ela escreveu um livro porque era o que gostava de fazer, e quando este suscitou reacções sem precedentes, a sua inocente autora só pediu para ser deixada em paz. Quando soube tudo isto, senti imedi­atamente uma enorme empatia por ela, embora até à data não tivesse tido o prazer de a conhecer pessoal­mente. Tenho a certeza de que nos entenderíamos, afinal Rhett causou alguma perturbação na vida de ambos.


Nos meses que se seguiram, o casting do filme tornou-se num debate de proporções idênticas às eleições nacionais, e em cada esquina se podiam ouvir acesos debates sobre o assunto. Rhett tornou-se numa preocupação cada vez maior. Continuava a ser o único que não tinha qualquer coisa para dizer a propósito dele. Nunca tive. Quando chegou a altura para começar a trabalhar, ainda estava cheio de dúvidas. Soube o que me esperava no dia em que David O. Selznick me telefonou. A sua compra dos direitos cine­matográficos do livro por 50,000 dólares estava na raíz de todas estas chatices. Tivemos uma conversa amigável. Eu a tentar esquivar-me, ele à procura do knockout. A ideia de David era fazer um contrato individual, caso o meu estúdio me autorizasse a participar no filme. Eu achava que o meu contrato era a minha escapatória. Especificava que só poderia fornecer os meus serviços à Metro-Goldwyn-Mayer. Comuniquei-o a David, acrescentando que, por mim, não estava interessado em interpretar Rhett.


Mas David não se deixou deter por esse pormenor. Sendo um amigo de longa data, e conhecendo-o bem, eu sabia que ele não ia desistir. Ele argumentou que era uma proposta sem precedentes para um actor. Nunca houvera um papel tão visível como o de Rhett. Mas essa era exactamente a razão pela qual o tinha recusado. Ele põs as cartas na mesa. Tentaria tudo o possível para convencer a M-G-M a emprestar-me para o filme. Concordámos deixar que eles decidissem com um aperto de mãos. Eu podia ter resistido mais. Não o fiz, e ainda bem. Estou feliz por não o ter feito. Hollywood sempre me tratou bem, nunca tive razão de queixa dos meus papéis e se o estúdio pensava que eu deveria interpre­tar Rhett, não era eu que devia tentar esquivar-me. Não tive nada a ver com as negociações. Soube que iria interpretar Rhett através dos jornais. E como parte do acordo, seria a Metro-Goldwyn-Mayer a distribuir o filme.


A escolha de Vivien Leigh para interpretar Scarlett foi uma agradável surpresa. A sua Scarlett foi tão energética e autêntica, que para mim foi muito mais fácil do que esperava entrar na pele de Rhett. Outra agradável surpresa foi a escolha de Victor Fleming para realizar o filme; ele já me tinha dirigido em "Test Pilot", e tinha confiança absoluta nele. Uma coisa que me recordo claramente é que em todos os meses de preparação para o filme nunca houve nenhuma divergência de opinião. Nenhum indivíduo, além da senhora Mitchell, merece maior reconhecimento dos outros. Foi um trabalho de equipa.

Havia uma só maneira de filmar "E Tudo o Vento Levou", ou seja, como a senhora Mitchell o tinha escrito. Havia um único problema, de difícil solução. Viven Leigh e eu falamos nele centenas de vezes, e chegámos à conclusão que Scarlett e Rhett, embora fossem personagens fortes, bem definidas e individualistas, dependeriam um do outro para se comple­mentarem. Nesse sentido, quero deixar aqui o mais sincero agradecimento a Vivien Leigh. Ela foi Scarlett a cada momento, e tenho uma grande dívida para com ela pela sua contribuição para o meu papel.

"E Tudo o Vento Levou" foi diferente de qualquer outro filme em que tenha participado. No passado, aqueles actores que diziam "viver" os seus papéis faziam-me sorrir, mas tenho que admitir que todos nós, e falo por todos os que de alguma maneira estiveram ligados ao filme, tivemos a clara sensação de estar a vivê-lo. A senhora Mitchell descreveu um período que é tipicamente americano, que é real, que nos inspira. Quando os electricistas, os assistentes mecânicos, os maquilhadores e os carpinteiros, que não se emocionam com os filmes que fazem, resolvem ficar no plateau para os ensaios das cenas e irrompem em aplausos espontâneos ao assistirem à interpretação de algumas das principais cenas dramáticas por parte de Vivien Leigh, percebemos que se trata de algo muito especial. São eles os críticos mais rigorosos do mundo.
  

SCARLETT O’HARA  por  VIVIEN LEIGH

Passou um ano desde a noite em que assistimos às primeiras filmagens de "E Tudo o Vento Levou". Foi um espectáculo grandioso - quarteirões inteiros consumidos pelas chamas enquanto Atlanta ardia - e eu fiquei algo confusa pela magnitude de tudo aquilo e pelo que parecia uma confusão terrível. Foi naquela noite que conheci David O. Selznick, o homem responsável pela produção de "E Tudo o Vento Levou", que ainda não tinha escolhido uma Scarlett O'Hara para o seu filme. Olhando para trás, parece-me que a qualidade fantásti­ca daquele incêndio, a confusão que senti e a sensação de estar sózinha no meio de centenas de pessoas era uma premonição do que estava para vir. Na época, naturalmente, não podia saber o que o futuro me reserva­va, e se alguém se tivesse arriscado a prevê-lo, provavelmente lhe teria respondido que não fazia sentido.

Mas o inesperado aconteceu e transformou-me, pelo menos durante alguns meses, quer eu o quisesse ou não, na personagem conhecida como Scarlett O'Hara. Hoje a dificuldade é olhar a personagem objectivamente. Que seria um papel inesquecível para qualquer actriz era óbvio, mas com toda a honestidade posso dizer que reagi ao pedido do senhor Selzníck para eu fazer uma prova para o papel como teria reagido a uma bríncadeira. Havia dezenas de jovens a fazer o mesmo, e eu não considerava seriamente a possibilidade de poder ser mesmo eu a interpretar o papel. Mas quando a decisão foi tomada, descobri que interpretar Scarlett não seria brincadeira nenhuma. A partir daquele momento, fui arrastada pelos acontecimentos, quase como se de uma poderosa onda se tratasse: fui Scarlett, só Scarlett e sempre Scarlett, noite e dia, durante meses a fio.

Puseram-me logo duas questões, que sempre estiveram presentes. Primeiro, todos queriam saber se o papel me intimidava. Em segundo lugar, perguntaram o que pensava eu da Scarlett afinal? Talvez se tivesse lutado, desejado e perdido sono a pensar se ficava com o papel, teria tido medo. Mas da maneira como as coisas correram, não tive tempo para me deixar levar pela preocupação. O factor tempo, e o apoio compreensivo do senhor Selznick, eliminaram o medo antes deste se instalar. Quanto à Scarlett, as minhas opiniões sobre essa jovem teimosa estão tão interligadas com a experiência que tive ao interpretá-la, que tenho alguma dificul­dade, nesta altura, em tentar analisar os meus sentimentos no que a ela toca. Vivi a Scarlett durante quase seis meses, do amanhecer até à noite profunda.

Tentei que cada gesto, cada movimento fossem fiéis ao que Scarlett era, e tive de sentir que até as coisas mesquin­ has dela eram da minha responsabilidade. Desde o momento em que comecei a ler "E Tudo o Vento Levou" há três anos, fiquei fascinada pela Scarlett, como muitos outros. Achei que ela precisava de umas boas palmadas, à moda antiga, em algumas ocasiões e teria ficado feliz em administrá-las pessoal­mente. Convencida, mimada, arrogante - todas estes traços são claramente parte do seu carácter. Mas ela também tem muita coragem e determinação, e acredito que é por isso que muitas mulheres têm uma admiração secreta por ela, mesmo que não possamos sentir orgulho dos seus muitos defeitos.

Embora fizesse todos os esforços para transpor para a realidade as características da obra de Margaret Mitchell, haveria sempre momentos em que a depressão se instalava. As filmagens exigiram tamanho esforço, todos os detalhes preparados minuciosamente, dias inteiros passados na recriação exacta de uma situação, que era natural que às vezes sentisse que o meu desempenho não correspondia às exigências do senhor Selznick, que o realizador Victor Fleming se esforçava tanto para respeitar. Mas o senhor Selznick parecia pressentir a chegada desses momentos, e então estava sempre presente para me dar o seu encorajamento, pelo que lhe estou infinitamente agradecida. O senhor Fleming, embora ocupado com a necessidade de coordenar mil e um detalhes ao mesmo tempo, parecia dispor de uma reserva inesgotável de paciência e boa disposição. Acho que todos sentimos que ali, mais do que nunca, éramos chamados para darmos a nossa especial contribuição ao esforço geral, mergulhando cada um na sua tarefa especiaI.

Houve meses em que ia para o estúdio directamente de casa às 6.30 da manhã, tomava o meu pequeno almoço enquanto estava a ser maquilhada e penteada, e apresentava-me no set às 8.45 para a primeira cena. Sair do estúdio pelas 9 ou 10 da noite era a regra e não a excepção. Evidentemente não aprovei­tei nada da célebre vida nocturna de Hollywood! Não quero com isto dizer que todo este duro trabalho não teve as suas compensações e momentos de descon­tracção. Ao longo de tantas semanas juntos, o elenco desenvolveu as suas pequenas brincadeiras e as suas formas de atenuar a tensão. O senhor Fleming con­seguia sempre preparar-me para uma cena difícil com uma elaborada vénia e chamando-me "Fiddle-dee-dee" a alcunha que me deu. E o bom humor natural de Clark Gable estava sempre pronto para aliviar a tensão dos momentos mais emotivos. Leslie Howard, como bem podem imaginar, é o bom humor em pessoa; raramente se zanga, e apimenta os momentos mais inesperados com um pouco de humor seco inglês.


Com certeza se recordam que em certa noite, Rhett Butler sobe uma grande escadaria com Scarlett ao colo. Estávamos prontos para filmar essa cena ao fim da tarde após um dia particularmente exigente. Como tão fre­quentemente acontece, várias coisas correram ma!, e o pobre Clark teve que subir essas escadas comigo ao colo uma dúzia de vezes até a cena ficar satisfatória. Mesmo o valente senhor Gable começava a revelar sinais de cansaço - o director artístico tinha mesmo desenhado uma escadaria bem comprida. «Vamos tentar mais uma vez, Clark», disse o real­izador. Clark franziu o sobrolho, mas pegou em mim e subiu aqueles degraus todos. «Obrigado, Clark», disse Fleming, «Não precisava desta última repetição, mas tinha apostado que não irias conseguir». Clark percebeu a piada – mas não tenho a certeza do que faria, se estivesse no seu lugar!


Talvez os dias mais difíceis para mim, falando em termos de puro esforço físico, foram aqueles dedicados à filmagem da cena em que Scarlett navega na torrente de pessoas em fuga durante a evacuação de Atlanta. Não podíamos filmar toda a cena como um plano de sequência única, e por isso passei uma eternidade a evitar o trânsito caótico na Peachtree Street, calculan­do cada passo para evitar cavalos a galope e coches descontrolados. Entre takes, a maquilhadora, que parecia estar em todo lado ao mesmo tempo, chegava, limpava a minha cara, para depois voltar a sujá-Ia com tinta da cor exacta do pó de argila da Georgia. Deve ter limpo a minha cara 20 vezes por dia - e aplicado o pó vermelho novamente cada vez.

Foi nessa altura que a dificíl tarefa de organização se revelava na sua forma mais espectacular. Cavalos e cav­aleiros tinham que atravessar certos locais em momen­tos precisos, e eu devia fazer o mesmo. Posso garantir que ver um canhão atrelado a cavalos a precipitar-se na nossa direcção a galope não é uma experiência agradá­vel, mesmo quando se sabe que os cavaleiros são profis­sionais e que têm tudo planeado. Estava tão concentra­da em estar no lugar certo ao momento certo, que foi só ao chegar à cama naquela noite que me apercebi que Scarlett O'Hara estava cheia de nódoas negras.

Embora possa parecer estranho, as cenas em que o esforço era emocional foram mais diffceis de rodar do que aquelas que exigiam esforço físico. Uma noite ficamos nos estúdios até cerca das 11 da noite, para depois viajarmo para o campo para filmar uma cena ao nascer do sol, na qual Scarlett cai de joelhos nos campos abandonados de Tara e jura que nunca mais passará fome. O sol apareceu no céu pouco depois das 2 da manhã, e eu não pude dormir, embora tivesse à minha disposição um camarim numa caravana. Conseguimos gravar a cena, e regressei a casa pelas 4.30 da manhã, mas não me lembro de ter estado particular­mente cansada. Por outro lado, lembro-me do dia em que Scarlett mata um desertor nortista, e recordo-me que depois daquele desagradável episódio, eu e a maravilhosa Olivia de Havilland, que interpreta Melanie, ficámos quase histéricas, não só pela tensão emocional da cena que acabávamos de interpretar, mas também pela queda quase demasiado "realista" do homem morto pelas escadas abaixo.


Mas quando finalmente chegou o dia em que com­pletámos o filme, não pude deixar de sentir alguma tris­teza por termos terminado a nossa tarefa, e que todos os intérpretes e o elenco - tão atenciosos e gentis durante todo o processo - estavam a separar-se. Clark Gable, Leslie Howard, Olivia de Havilland, Tom Mitchell, Barbara O'Neil - todos eles excelentes intérpretes. Voltaríamo-nos a encontrar, é claro, mas nunca mais teríamos uma experiência como a de “E Tudo o Vento Levou".



A BANDA-SONORA:
(da autoria de Max Steiner, gravada em 7 de Setembro de 1973 pela National Philharmonic Orchestra, dirigida por Charles Gerhardt)